29 de julho de 2010

RS Entrevista - DJ Nazca


Hoje a RS, lança oficialmente seu novo selo. A RS Musik (Divulgadora de festas eletrônicas), para inauguração dessa nova marca, realizamos hoje uma entrevista exclusiva com o DJ Nazca, diretamente da Itália. O pioneiro em Psytrance da Bahia, nos conta um pouco como iniciou sua carreira e como é a sensação de tocar fora do Brasil. Confira Abaixo!

















01 - Conte um pouco como você iniciou sua carreira de DJ.

Comecei a tocar como DJ desde muito novo. Acho que em 1990 eu ja estava tocando em minhas primeiras festinhas no colégio. Não era nada profissional, mas lembro de sempre querer estar no comando do som, colocando musicas para meus amigos dançarem e se divertirem. Depois desenvolvi uma paixão por musica eletrônica e comecei a pesquisar o fenômeno rave, que começava a tomar forma na Europa desde 1988. Nessas pesquisas, descobri o Kraftwerk, a acid house. Tinha uma banda de rock na época, mas comecei a sentir que a eletrônica era algo mais inovador, de vanguarda, e que me cativava mais do que o bom e velho rock'n'roll. Larguei a banda, fui para Trancoso, descobri o Goa trance e comecei a fazer aquelas festas fluorescentes em Salvador também. Em 1996, comecei a tocar profissionalmente. Junto com a produção dos eventos, esse é o meu trabalho hoje.

02 - Você já teve oportunidade de tocar em festas alternativas em Salvador, como foi essa experiência?

Salvador sempre teve uma cultura forte e dominante: o axé. Querer ser alternativo em Salvador nos anos 90 era algo de heróico, já que o publico, a mídia e os patrocinadores, todos estavam mais interessados nas grandes estrelas da axé music. Isso começou a mudar quando o axé passou a tomar todo o Brasil, e começou a ficar mais fraco na sua cidade natal, Salvador. Isso abriu espaço para uma vida alternativa na cidade. De repente, os eventos eletrônicos passaram de 300-400 pessoas para 1500-2000 pessoas. Uma cultura trance então se desenvolveu em Salvador e hoje temos uma cena consolidada, com publico variando entre 2500 e 3000 pessoas, e festas consagradas como a Aurora e a Earthdance Salvador.

03 - Qual é a sensação de tocar fora do Brasil? E o que é mais divertido quando se faz uma Tour?

É muito interessante tocar para pessoas de outra cultura, com outra vivencia da musica eletrônica. E é sempre um desafio se conectar aos corações e mentes dessas pessoas e descobrir que tipo de musica as toca e as faz sorrir e dançar numa festa. Em 2009 e nesse ano de 2010 já toquei na Argentina, Chile, Bolívia, Costa Rica, Guatemala, Suíça, Itália e Bélgica. Todos esses lugares têm suas peculiaridades, sua cultura própria. Isso me fascina: conhecer novos lugares, mergulhar numa cidade nova, sentir seus cheiros, suas pessoas, sua comida, seu modo de viver. De fato, conhecer a cultura desses países é tão bom quanto tocar por lá.

04 - Com o advento da internet e de novos programas, muitas pessoas se tornaram "DJ's", qual sua opinião a respeito?

Acredito que esse é um processo natural e irreversível. Se hoje todos querem ser DJs, é porque hoje a tecnologia disponível permite isso e porque a musica eletrônica conseguiu conectar jovens de todos os continentes sob um mesmo ritmo. E é um pouco como foi com o rock nos anos 50 e 60. De repente, uma geração descobre uma nova paixão e todos querem fazer parte de uma banda, dar a sua contribuição para aquela nova revolução. Hoje, as guitarras estão sendo substituídas por mixers e playes e computadores e samplers e drum machines. Ha uma nova revolução acontecendo e é normal que muitos queiram fazer parte de tudo isso. Claro que sempre vai existir a diferença entre um bom DJ e um mau DJ. Mas o próprio publico faz a sua escolha e acaba rejeitando os maus profissionais. O exemplo mais recente disso foi o modelo Jesus Luz, que namorou (ou namora, não sei) com Madonna e, de repente, se tornou DJ, tocando sets pré-gravados em festas e pedindo milhares de reais por isso. Felizmente, a informação corre solta na cena e ele foi desmascarado e não conta com o respeito da classe de DJs, nem no Brasil nem fora dele. Os DJs ”fake” ou DJs celebridades estão ai, mas a cena não está nem ai pra eles.


05 - Sendo o DJ pioneiro em Psytrance na Bahia, como define esse estilo de som?

Psytrance é uma evolução do Goa trance, um hibrido eletrônico que surgiu nas praias de Goa - India, e que mesclava os beats 4x4 e a ciência de som da techno music com as melodias e o imaginário da cultura hindu, como as tablas, mantras e uma estrutura musical diferente. Tudo isso sempre tocado ao ar livre, sob o céu estrelado e em contato direto com a natureza. Na medida em que perdia gradualmente seu lado mais espiritual / hindu e se espalhava pelo mundo, conectando-se com diversas outras culturas, o Goa trance se transformou no Psychedelic trance, um estilo eletrônico forte, que varia entre os 135 e os 150bpm, com muitas camadas de som, melodias futuristas, estruturas não convencionais de som. Costumo chamar o psytrance de freqüência alien. Sou apaixonado por esse som. Pra mim não há nada que funcione melhor numa pista de dança. Claro, eu tento manter sempre um ouvido atento a outros estilos musicais, até porque a cultura eletrônica sempre foi uma cultura de recombinações e de múltiplas influencias. Escuto também muito dub, techno, ambient e IDM.

06 - Ainda tem o sonho de tocar em algum lugar especifico?

Sim, na Lua. Em breve na Lua. Esse é o nome do meu coletivo e um sonho exótico e selvagem, mas quem sabe, né? Desejo um dia tocar no Boom Festival, em Portugal, que é o maior festival de Psytrance do mundo, chegando a 50.000 pessoas. Esse também é um grande sonho. Nesses últimos 2 anos, toquei em alguns lugares que sempre sonhei, como Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica e Guatemala. E em 2010, já toquei na Suíça e toco ainda na Itália e na Bélgica. Esse foi um sonho que estou realizando. Em agosto retorno a Salvador para a produção da Earthdance Salvador, que vai unir as diversas tribos eletrônicas de Salvador em uma só pista de dança.

07 - Quais são seus DJ's favoritos em Salvador?

Gosto muito do som do DJ Divinori, que toca Goa trance, e do som do DJ Xcamas, que toca um Psytrance energético e eufórico. Admiro o trabalho novo de Dexter dentro do Techno. Dos novos nomes, gosto do som do DJ Daft e da DJ Karielle.

08 - O que não pode faltar em sua playlist?

Goa trance da nova geração, com melodias fractais, clima de morning glory, perfeito para tocar ao nascer do sol e ao ar livre. Coisas como Braincell, Imaginary Sight, do selo Glowing Flame, e Aphid Moon, Paramatma, ITP, The Misted Muppet, Talpa, Aerosis, Agneton, e os brasileiros Patchbay, Yagé, Burn In Noise e Stereographic. Esse som é uma releitura do som do Goa trance, mas com novas técnicas e muito mais força e apelo de pista de dança. Musica positiva, cheia de vida e de cor.

09 - Uma mensagem para todos que admiram seu trabalho.

Mantenham a mente aberta, o coração puro e sorriam sempre na pista de dança. Dance como se ninguém estivesse olhando. Trance is here to stay!

10 - Planos para o futuro.

Trazer um caráter mais ao vivo para meu DJ set, através do uso de softwares como o Ableton Live e Traktor Pro, que vão permitir muito mais flexibilidade e possibilidades de intervenção durante a minha apresentação. Por isso, devo abandonar muito em breve os CDs e tocar diretamente a partir do meu próprio laptop. Isso porque o futuro da mídia é a não-mídia. CDs são coisas do passado. Em breve deixarão de existir. Para isso, já tenho o meu controlador (Numark Omni Control, que substitui os 2 CDJs e o mixer e um M-Audio Triger Finger, que funciona como sampler) e, em 2011, essa é minha meta.