22 de fevereiro de 2009

...::: RS Entrevista - Canibal Brasil


Entrevistamos o sempre irreverente e polêmico, Guga da Canibal Brasil. Nessa entrevista revela um pouco sobre a história da banda, como enxerga o cenário rocker atual e o que o leva a compor as suas canções. Confiram.

1 - Conte um pouco como surgiu à banda "Canibal Brasil"

A banda é um projeto antigo, pois estamos engajados com a prática do social, em busca de vida inteligente e salutar, hermanados com a difusão da consciência coletiva para a evolução da humanidade. Eu precisava de um veículo cultural para recrutar semelhantes ou não, e não há melhor via ou veia que a do rock.

Preocupei-me principalmente com a recusa aos rótulos de um estilo definido. Faço "o que dá na telha rock". Se o texto merece acordes de um new ou de heavy, de um hard ou punk, um hc ou brega...apenas aplico-os, mas creio que faço com responsabilidade e propriedade. Não me engajo a tribos, embora desperte admirações de algumas e repulsa de outras. Normal.
2 - Esse ano a banda completa três anos consecutivos de Palco do Rock, qual a importância desse evento para a banda e para o cenário rocker de Salvador?

Bandas como Cobalto, Slow (baianas) e Chip Set Zero, Maldita e C-Real entre outras, repercutiram para o mundo após o Palco do Rock. Para mim é afirmação, a solidificação e oportunidade de materializar o sonho. Fiz deste sonho uma meta e o materializei. No Palco do rock, fui premiado, agraciado com os troféus de "Melhor Vocalista de rock", "Melhor Performance" e "Músico Destaque" por 2 anos consecutivos. Uma prova do reconhecimento de um trabalho, muitas vezes contestado, mas a veracidade sempre prevalece.

Vale salientar que as votações para os prêmios, ocorreram de forma democrática através de cédulas preenchidas e colocadas na urna após os shows e participação direta pela Internet.
3 - Como avalia o cenário rocker atualmente?

Com pesar, com lamentos. Não temos uma cena forte, infelizmente. Basta voltar um pouco no tempo. Nem precisamos retornar a três anos (tempo de vida da Canibal Brasil) para verificarmos que bandas surgem e acabam meteoricamente. Muitos desistem pelas dificuldades e outros não estão mesmos compromissados com uma causa, com profissionalismo.

Filhinhos de papai colocam uma guitarra no pescoço para brincar de rock e beijar na boca. Os acordes são sofríveis, as melodias pobres e repetitivas e os textos sem nenhuma métrica, teor filosófico ou de importância social. Textos sem concordância verbal mínima, temas piegas e modistas, sem nenhuma poesia, com erros clássicos gramaticais onde não cabe nenhuma licença poética. Falar de amor é maravilhoso, mas o tema merece respeito e qualidade. É necessário pesquisar. É necessário engajar-se. É necessário ser rocker no comportamento e atitude e no compromisso com a real irreverência, pra não soar falso.
4 - Atualmente o que anda escutando? Recomenda algo?
Atualmente ouço Ulo Selvagem, Mundo Tosco, Ignívomus, Desrroche, Agressivos, Dimensões Distorcidas, Minus entre outras. Destaque entre as novas para Vivendo do Ócio, excelente banda, perseverante e madura para a média de idade de seus integrantes

Não há mais nada que me faça dividir atenção entre os clássicos como Pink Floyd, Iron, Ozzy, Zeppelin entre outros.
5 - As letras das músicas da "Canibal Brasil" têm algum conteúdo denunciativo?

"Como dói lembrar de Hiroshima e Nagasaki, das cinzas humanas , da estéril para a flor, como dói lembrar de Israel Irã e Iraque com seus filhos órfãos que hoje vagam sem amor" Isto responde sua pergunta? Ou preciso citar versos da polêmica "Em nome de Deus” ou "Eduque bem"?


6 - De onde vem a inspiração na hora de compor essas canções?

Da hipocrisia humana, do descaso político, do analfabetismo político, da natureza mesquinha, individualista e generalizada.

Faço um trabalho com preocupação social, político, cultural, comportamental, ecológica... E nem por isto deixo de abordar o amor. "A primeira vez que comi sua mãe" é uma faixa do nosso CD que revela uma revolução amorosa causada no planeta, segundo minha visão, com a mãe de dois de meus filhos.
7 - A banda já tem um tempo na estrada, quais as dificuldades que encontraram ao longo dessa caminhada?

O que vocês constatam no comportamento de um público que se diz ávido por eventos na cena, mas estão adestrados pelo "plim-plim"? O que vocês constatam no comportamento de um público que sequer sabe a importância de Ramones naquilo que eles curtem hoje?

O que vocês constatam no comportamento de uma gurizada que prefere pagar por vinho barato, cigarros e conversas sem nenhuma noção, ficando nas portarias mendigando ingressos de bandas que eles deveriam ajudar a crescer? Muitas vezes, os que adentram ao local do show, mal conseguem assistir a uma apresentação, pois ficam nos banheiros vomitando até as vísceras e miolos na privada. Há uma cultura triste de não se pagar por ingressos dos shows de bandas locais, até mesmo por parte de fãs destas.

Conseqüentemente, não se pode dar manutenção a locais decentes, sons de qualidade, iluminação de mega-produções ou bandas com profissionais. A menos que se ponha uma banda da moda (de fora) em um evento, não vemos uma disposição consciente do público rocker em Salvador. Só pra citar, Recife-PE tem números muito mais animadores em termos de freqüência e fidelidade.
8 - Qual foi o melhor show que a banda já fez?

Gosto muito da temporada vitoriosa que fizemos no velho Zanzibar as sextas-feiras, durante 3 meses. Demos oportunidades para várias bandas dos mais diversos estilos. Fizemos um Festival apenas com bandas locais no auge do Rock in Rio Café Salvador.Fizemos o Canibal + Dead Fish, Canibal + NX Zero, Canibal + Fresno, Canibal + Glória e Canibal + One Day (Argentina) entre outros. Escolhemos esta forma estranha de misturar estilos, justamente para diagnosticarmos a ferida da cena. O Festival de Verão pode anunciar mistura e todos consomem. No meu caso fui duramente criticado. O fato é que desesteriotipamos o conceito xulo e esdrúxulo tribal. Provamos que a idéia de festival eclético funciona sim.

Muitas pessoas que curtiam apenas outros estilos, hoje me agradecem, pois despertaram para um discurso e acordes mais densos. Muitos nem curtem mais aqueles estilos e outros continuam amando, mas entendem ou tentam entender o discurso e o som da Canibal Brasil. Eu gostei muito de um show que fizemos em Camaçari com a lendária banda punk Garotos Podres. Fomos recebidos com desconfiança e preconceito. Muitos sequer sabiam sobre as músicas que executávamos. Após a primeira música, já se identificava o frenesi do bate-cabeça, com sangue e suor escorrendo pelas testas.
9 - O estilo da banda é diferente das demais de Salvador, de onde vem essa originalidade?

Da coragem e da veracidade.
10 - Qual a dica que deixam as novas bandas?

Pesquisem, estudem seus instrumentos... Tomem doses cavalares de Iron, Zeppelin, Black Sabath, ACDC e outros clássicos, pois sem estas referências é impossível reconhecer o real valor de Kurt Coubain ou Steve Tyler, Axl e outros. Estes vieram influenciados pelos monstros sagrados do rock. A J.Jopplin também é uma excelente referência com seu blues chapado de rock. Curtam muita MPB e música clássica (inclusive a brasileira) para alcançarem melhores resultados no conteúdo do rock que produzirão.

Os filhinhos de papai podem colecionar guitarras importadas, mas emprestem a aqueles que podem executar melhor o rock em sua essência. Aprendam a afinar seus instrumentos, aprendam a soar o som visceral rocker e não desistam no meio do caminho.
11 - Planos para o futuro.

CD, DVD, Turnê no Brasil e no Exterior. Concentramos tudo no pré-lançamento de nosso CD que se realizará, com fé em Deus (eu acredito, viu gente?) em nosso show, nesta terça-feira as 20hrs, último dia do Palco do Rock.

Abraços e obrigado a você Rapha. Parabéns pelo trabalho que desenvolvem pela cena rocker da Bahia.
Como assim, ainda não conhece a banda Canibal Brasil? O que está esperando, confira agora:
http://www.canibalbrasil.palcomp3.com.br